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quinta-feira, 22 de julho de 2010

Religiões promovem diálogo

Durante uma semana, es­tivemos na Guiné-Bissau, a conhecer o outro lado do país, tanto badalado na im­prensa mundial. Um país cujo Estado parece perder autoridade para os milita­res e traficantes. Todos co­nhecem este lado mediático da Guiné-Bissau, mas esta realidade ofusca coisas bo­as que aqui ocorrem. Desde logo, o diálogo inter religio­so entre Católicos, Muçul­manos e Evangélicos. Nesse chão, vive-se uma experi­ência sui generis, algo que precisa ultrapassar as fron­teiras deste país.

Na primeira parte desta nossa reportagem (publica­ção semanal), conferimos os passos de uma relação iniciada com o patrocínio de uma rádio Católica, uma das instituições mais prestigiadas deste país de maioria Islâmica. Também nesta edição, duas entrevis­tas (ver págs. 11 e 12) com o Íman de Mansoa e o direc­tor da Sol Mansi, respecti­vamente, Aladje Bubacar Djaló e o Padre Davide Sciocco.

Sempre que se fala da Gui­né-Bissau, vêm-nos à men­te, imagens de um país em constante conflito. A verda­de, é que esse cenário ainda paira so­bre este território, mas não é menos verdade que há aqui, bons exemplos que podem ser exportados para ou­tras realidades. Desde logo, a salutar cooperação, existente entre as várias confissões religiosas. Católicos, Mu­çulmanos e Evangélicos já fazem na Guiné-Bissau, um frutífero diálogo inter religioso. Apesar das diferen­ças ideológicas, conseguem estabe­lecer plataformas de entendimento e de cooperação. A liberdade religiosa é uma realidade, não obstante as di­ferenças.

A Rádio Sol Mansi, Emissora Ca­tólica da Guiné-Bissau deu o mote. Aceitou para o seu quadro de pesso­al, profissionais e colaboradores de outros credos. O director da secção de Mansoa e o chefe de informação de Bissau – apenas para citar estes - são todos Muçulmanos. Parece es­tranho. Logo numa rádio católica? É verdade.

Davide Sciocco, é sacerdote, missionário italiano. Chegou a es­te país, pela primeira vez, em 1992 e ficou até 2004, altura em que faz um interregno, regressa a Itália, e retorna ao país, em 2007, para prosseguir a sua missão. É o prin­cipal mentor do projecto da rádio Sol Mansi e vai dizendo, a propósi­to da reunião de pessoas de credos diferentes, que ele acredita que uma pessoa “verdadeiramente religio­sa” pode ser um construtor de Paz. Mais, acrescenta: “o conhecimento da própria religião pode ajudar ao diálogo”.

Segundo nos explica, a Sol Man­si, enquanto rádio ao serviço da paz sentiu-se na necessidade de dar um sinal claro e evidente que quer uma estabilidade duradoira na Guiné-Bissau. A génese da rádio está pre­cisamente numa das muitas épocas agitadas desta nação. A guerra civil de 1998/99. É que durante a luta po­lítico-militar de então, as partes em conflito tomaram algumas rádios que serviram de “instrumentos” pa­ra fazer a guerra e também para re­crutar pessoas para se juntar à junta militar. É ali que o padre Davide se põe a reflectir: “se uma rádio serviu para ganhar uma guerra, porque não começar uma rádio que ajudas­se a construir a paz, a reconciliação nacional e também apoiar na evan­gelização”.

Lançado o desafio, mãos à obra. Não faltaram colaboradores. Jovens de todas as religiões presentes na re­gião de Mansoa (a 60km de Bissau) abraçaram o projecto, e no dia 14 de Fevereiro de 2001, a rádio fez-se ao ar. Inicialmente, emitia apenas à noite e por escassas horas. Aos poucos a rádio foi crescendo, e ho­je emite das 6h30 às 23hrs. “Somos uma rádio Católica”, garante o padre Davide “mas desde o início tivemos uma presença muito forte dos Mu­çulmanos”.

Mas, esse diálogo religioso de que vimos falando, não fica apenas pelas intenções. Ela é uma realidade nos programas das diversas igrejas, nu­ma e noutra rádio. É que os Muçul­manos têm também uma emissora. Emite apenas à noite mas o inter­câmbio é regular.

O Íman Muçulmano de Mansoa, Aladje Bubacar Djaló, apresenta na Sol Mansi um programa, virado para os seus confrades. A “Voz do Islão” é difundido às quintas-feiras, enquanto o programa “Dez minuto ku Deus”, do padre Davide Sciocco, também passa na Rádio Corânica. Uma “boa colaboração”, admitem os dois responsáveis.

O Íman de Mansoa destaca a excelência das relações entre os vá­rios credos e vai dizendo que cada um deve fazer o que estiver ao seu alcance para promover a paz. “Pre­cisamos da paz e devemos lutar por ela”, considera.

por: Alírio Cabral Gomes,

Enviado especial à G

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