Religiões promovem diálogo
Durante uma semana, estivemos na Guiné-Bissau, a conhecer o outro lado do país, tanto badalado na imprensa mundial. Um país cujo Estado parece perder autoridade para os militares e traficantes. Todos conhecem este lado mediático da Guiné-Bissau, mas esta realidade ofusca coisas boas que aqui ocorrem. Desde logo, o diálogo inter religioso entre Católicos, Muçulmanos e Evangélicos. Nesse chão, vive-se uma experiência sui generis, algo que precisa ultrapassar as fronteiras deste país.
Na primeira parte desta nossa reportagem (publicação semanal), conferimos os passos de uma relação iniciada com o patrocínio de uma rádio Católica, uma das instituições mais prestigiadas deste país de maioria Islâmica. Também nesta edição, duas entrevistas (ver págs. 11 e 12) com o Íman de Mansoa e o director da Sol Mansi, respectivamente, Aladje Bubacar Djaló e o Padre Davide Sciocco.
Sempre que se fala da Guiné-Bissau, vêm-nos à mente, imagens de um país
A Rádio Sol Mansi, Emissora Católica da Guiné-Bissau deu o mote. Aceitou para o seu quadro de pessoal, profissionais e colaboradores de outros credos. O director da secção de Mansoa e o chefe de informação de Bissau – apenas para citar estes - são todos Muçulmanos. Parece estranho. Logo numa rádio católica? É verdade.
Davide Sciocco, é sacerdote, missionário italiano. Chegou a este país, pela primeira vez, em 1992 e ficou até 2004, altura em que faz um interregno, regressa a Itália, e retorna ao país, em 2007, para prosseguir a sua missão. É o principal mentor do projecto da rádio Sol Mansi e vai dizendo, a propósito da reunião de pessoas de credos diferentes, que ele acredita que uma pessoa “verdadeiramente religiosa” pode ser um construtor de Paz. Mais, acrescenta: “o conhecimento da própria religião pode ajudar ao diálogo”.
Segundo nos explica, a Sol Mansi, enquanto rádio ao serviço da paz sentiu-se na necessidade de dar um sinal claro e evidente que quer uma estabilidade duradoira na Guiné-Bissau. A génese da rádio está precisamente numa das muitas épocas agitadas desta nação. A guerra civil de 1998/99. É que durante a luta político-militar de então, as partes em conflito tomaram algumas rádios que serviram de “instrumentos” para fazer a guerra e também para recrutar pessoas para se juntar à junta militar. É ali que o padre Davide se põe a reflectir: “se uma rádio serviu para ganhar uma guerra, porque não começar uma rádio que ajudasse a construir a paz, a reconciliação nacional e também apoiar na evangelização”.
Lançado o desafio, mãos à obra. Não faltaram colaboradores. Jovens de todas as religiões presentes na região de Mansoa (a 60km de Bissau) abraçaram o projecto, e no dia 14 de Fevereiro de
Mas, esse diálogo religioso de que vimos falando, não fica apenas pelas intenções. Ela é uma realidade nos programas das diversas igrejas, numa e noutra rádio. É que os Muçulmanos têm também uma emissora. Emite apenas à noite mas o intercâmbio é regular.
O Íman Muçulmano de Mansoa, Aladje Bubacar Djaló, apresenta na Sol Mansi um programa, virado para os seus confrades. A “Voz do Islão” é difundido às quintas-feiras, enquanto o programa “Dez minuto ku Deus”, do padre Davide Sciocco, também passa na Rádio Corânica. Uma “boa colaboração”, admitem os dois responsáveis.
O Íman de Mansoa destaca a excelência das relações entre os vários credos e vai dizendo que cada um deve fazer o que estiver ao seu alcance para promover a paz. “Precisamos da paz e devemos lutar por ela”, considera.
por: Alírio Cabral Gomes,
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